Atualmente com 90 anos, o médico pediatra Luiz Geraldo Nogueira Fonseca nasceu em Araçatuba, no dia 12 de abril de 1928, onde residiu até 1946, quando estava prestes a completar 18 anos e ingressou em Medicina na Universidade do Brasil, atual Faculdade Nacional de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Foi até uma coisa engraçada. Eu saí de Araçatuba para prestar vestibular em São Paulo, disposto a fazer engenharia. Mas, durante a viagem, pensei: eu não desenho bem e não gosto de planejamentos, então, acho que estou no caminho errado. Ao mesmo tempo, como sempre me identifiquei muito com Ciências Biológicas, isso me levou a pensar poderia ser mais útil fazendo Medicina. E tomei essa decisão”, explica.
Naquele tempo, havia poucas faculdades de medicina. Ainda assim, dr. Geraldo foi aprovado no vestibular em São Paulo, porém, como a universidade só admitia 80 alunos e ele não foi um dos 80 classificados, ficou na lista de espera. Ciente de que havia encontrado sua vocação, ele e outras pessoas que não conseguiram entrar nessa faculdade tentaram, no mesmo ano, o vestibular da UFRJ. “Foi quando consegui passar. Aliás, eu agradeço muito a Deus por não ter entrado na universidade de São Paulo, mas na do Rio de Janeiro, porque, para mim, a UFRJ não foi unicamente uma escola universitária, mas uma escola de vida”, conta.
Dr. Geraldo relembra que a UFRJ realizava, regularmente, festas e confraternizações. “Em um desses eventos, eu tive a sorte de encontrar minha esposa. Ela era amiga de uma moça que estudava na mesma faculdade que eu e a acompanhou a uma dessas festas. Foi quando tive a oportunidade de conhecê-la”. Casados há 65 anos, dr. Geraldo e Norma Correia Fonseca têm três filhos, sete netos e três bisnetos e cultivam grande carinho, amor e companheirismo um pelo outro.
Em 1950, dr. Geraldo foi aprovado no concurso do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, porém, optou pelo cargo seguinte, que ocupou em 1951 como interno na Maternidade do hospital. No mesmo ano, foi interno do Serviço Médico do Jockey Club Brasileiro, onde atuou até abril de 1952. Ainda nesse ano, dr. Geraldo retornou à Araçatuba, abriu seu consultório e passou também a atuar como médico pediatra na Santa Casa de Misericórdia de Araçatuba, onde trabalhou até recentemente. “Na mesma época, houve uma epidemia de paralisia infantil na região e o Governo abriu mais duas vagas para médicos no Centro de Saúde, a fim de atuarem na Vigilância Sanitária. Eu e o doutor Renato Monteiro preenchemos essas vagas, onde atuei até 1956”, relembra.
Paralelamente à carreira médica, dr. Geraldo fez carreira universitária, sendo professor titular da disciplina de Farmacologia, no campus de Odontologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araçatuba. Aprovado em concurso de Prova e Títulos, completou carreira e se aposentou em 1998.
Ao ser questionado sobre qual trabalho mais o marcou, dr. Geraldo explica que cada um deixou marcas de maneiras diferentes. “Peguei uma época na qual a medicina contava com poucos recursos auxiliares. Araçatuba tinha somente um laboratório, que era o Ângelo Guaranha. Além disso, não existia Pronto Socorro no município e não havia sido criado o Sistema Único de Saúde (SUS), então, a medicina gratuita era oferecida na Santa Casa. Por isso, o início do trabalho em minha clínica exigiu grande dedicação”, conta. Dr. Geraldo ainda se lembra das grandes mudanças trazidas pela tecnologia. “Vi dois hospitais grandes serem construídos, sendo eles a Santa Casa e a Unimed, ambos muito bem equipados e com grande qualidade e excelência. Vi também a criação do SUS, que presta um importante serviço à população, e presenciei o surgimento das técnicas de tomografia, ultrassonografia e ressonância magnética”, relembra.
Por estar envolvido com a medicina desde os 18 anos de idade, dr. Geraldo diz que ela é grande parte de sua vida. Segundo ele, a Pediatria é uma especialidade que exige dedicação e acompanhamento, o que gera uma porção de revisões e retornos gratuitos. “Ou seja, a remuneração não é alta. Acredito que isso faça com que os profissionais procurem mais por áreas como cirurgia e ortopedia, por exemplo, já que são áreas oferecem maior renda. São ciclos de interesses profissionais”.
Dr. Geraldo oferece esse acompanhamento a todos os seus clientes e encanta gerações. Muitas pessoas que, quando crianças, foram seus clientes levam hoje seus filhos e netos para receberem os mesmos cuidados. Segundo ele, a relação médico profissional é uma questão de empatia e entrosamento. “Se eu pudesse voltar ao começo, faria tudo do mesmo jeito. E não tenho vontade de parar, não”, afirma. Ele ainda explica que as soluções devem ser apresentadas de acordo com o que é mais indicado para cada paciente. “Uma criança que está com um problema que exige antibiótico, deve fazer tratamento com antibiótico; se está com desidratação, é necessário aplicar soro; se está com crise asmática violenta, deve usar um antiasmático enérgico. Porém, algumas vezes, uma boa orientação, que dispensa o produto químico/terapêutico, é válida. Cada situação tem sua indicação”.
Durante os 65 anos atuante como médico pediatra, Dr. Geraldo acumula lembranças carinhosas de muitos pacientes. “Me recordo de uma criança que estava internada no hospital em situação grave e o pai me pediu para leva-la para morrer em casa. Eu consegui convencê-lo a mantê-la no hospital e, com o tempo, ela quase se recuperou por completo. As poucas probabilidades que ela tinha foram atingidas, se tornando uma criança que cresceu, evoluiu e progrediu na vida”, relembra.
Ao ser questionado sobre qual foi/é seu maior sonho, ele não hesita: “o meu sonho sempre foi chegar onde cheguei”.
Compartilhe: