Quando a doença é grave, uma ida à manicure ou a possibilidade de escutar música ao vivo não são meros detalhes. Atividades como essas podem ser terapêuticas, já que o bem-estar do paciente está correlacionado com o aumento de sobrevida e até mesmo com a cura de algumas doenças.
Pensando nisso, um grupo de investidores inaugurou recentemente no bairro da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, a clínica Neolife.
O espaço, voltado para pessoas com câncer, oferece atendimento na área de nutrição, acupuntura, drenagem linfática e cabeleireiro (perucas, inclusive). Há também manicure e podologia feitos por profissionais habilitados para preservar as cutículas e usar produtos com baixo risco de causar reações alérgicas.
Uma das pacientes da clínica é a advogada Marcela Aguinaga, 29, que foi diagnosticada com câncer de mama há pouco mais de dois meses. A estratégia de enfrentamento da doença envolve, além de cirurgia e radioterapia, a quimioterapia —método que provoca a queda de cabelo.
Com o uso de uma touca gelada, que resfria o couro cabeludo a -20°C durante as sessões de químio, Marcela preservou os fios. O resfriamento do couro cabeludo provoca uma contração dos vasos sanguíneos na região, freando a chegada do medicamento aos bulbos capilares.
Ela também já usufruiu da micropigmentação de sobrancelhas e da massagem oferecidas pela clínica. “Me peguei mais presa do que eu imaginava à minha imagem, mas eu não me julgo por isso. Além de ficar doente, tem que ficar com cara de doente?”, diz.
“Antigamente o objetivo de quem tinha um diagnóstico de câncer era sobreviver; hoje, é ter uma vida normal”, diz a oncologista Milena Tariki, uma das responsáveis pela clínica.
“No fim das contas, é preciso criar novas relações consigo mesmo, num grande processo de reinvenção. Os efeitos da químio são duros, pesados, mas o processo tem sido um aprendizado gigantesco, apesar das consequências físicas dolorosas”, diz Marcela.
A fisioterapeuta Roberta Perez Peres também foi diagnosticada com câncer de mama na faixa dos 20 anos. Hoje recuperada e responsável pela página Vai por Mim no Facebook e no Instagram, ela diz que muitas vezes os oncologistas desconhecem os melhores procedimentos estéticos para pacientes oncológicos.
“Na dúvida, eles proíbem. Nem todos os serviços são realizados com todo o cuidado que o paciente oncológico precisa, por falta de preparo dos prestadores de serviço”, diz.
Ela lamenta, porém, o alto custo —os tratamentos na Neolife tendem a ser mais caros que as versões não oncológicas. Fazer as unhas sai por R$ 50, uma sessão de drenagem linfática, R$ 250; cada sessão de touca gelada custa R$ 550. Mas são bem-vindas iniciativas do tipo, diz Peres.
O Hospital Premier, na Vila Cordeiro, zona oeste de São Paulo, também oferece tratamento diferenciado a pacientes graves, só que sem possibilidade de cura.
A expertise da instituição são os cuidados paliativos. “Mas isso não significa esperar a morte. Por aqui celebramos a vida”, diz Samir Salman superintendente do hospital.
Sessões musicais fazem parte da rotina do hospital. No dia da visita da reportagem, o flautista Toninho Carrasqueira tocava nos corredores; em outro canto, a dupla Giba Donato e Juarez Travassos entoava sucessos que os pacientes sabiam de cor.