De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, compilados pela consultoria Idados e publicados pelo jornal “O Estado de S. Paulo” de 03 de fevereiro, cresceu o número de trabalhadores que ganham no máximo um salário mínimo.
“Entre o terceiro trimestre de 2014 e o mesmo período do ano passado, meio milhão de trabalhadores passaram a ganhar o mínimo. Quando se compara o ano passado com 2015, essa diferença chega a 1,8 milhão de pessoas. No trimestre encerrado em setembro do ano passado, eram 27,3 milhões recebendo até um salário, um terço do total de trabalhadores do País. No terceiro trimestre de 2019, eram 20,9 milhões de informais ganhando até R$ 998 por mês — ante 6,2 milhões de trabalhadores com carteira assinada que tinham essa remuneração no mesmo período.”
Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), vem falando constantemente sobre a gravidade dos índices de desemprego no País. “Hoje, são quase 13 milhões de trabalhadores desempregados e, ainda que esse número tenha baixado um pouco, está bem longe de ser o suficiente para a retomada da economia e, principalmente, da dignidade humana”, diz Patah.
Esses dados estão diretamente ligados ao fato de o trabalhador aceitar o emprego disponível, pelo salário que for oferecido, sem ter forças para pleitear algo melhor. Se ele não aceitar, o próximo da fila pegará a vaga e ele continuará parte da estatística.
Outra consequência direta é o aumento do trabalho informal. Para sobreviver, as pessoas aceitam qualquer trabalho, sem proteção e sem benefícios.
Além disso, pessoas com altos níveis de escolaridade também “entram no bolo” e acabam tendo que aceitar salários menores, pois não há valores compatíveis com sua formação disponíveis no mercado de trabalho.
“Esse é um fenômeno novo e muito preocupante. Até quem ganhava mais está ganhando menos. Isso significa menos consumo e a consequente baixa no giro da economia”, alerta o presidente da UGT.
É o clássico exemplo da relação oferta/procura. Muita gente procurando emprego faz com que os salários diminuam. “Mas o fato é que não estamos falando de produtos ou serviços. E sim de vidas, de trabalhadores, pais e mães, estudantes, arrimos de família”, destaca Ricardo Patah.
Sem falar que o valor definido para o salário mínimo, de R$ 1.045, é absolutamente insuficiente para as despesas básicas do trabalhador, que incluem comida, moradia e saúde.
“É urgente que seja dada a devida atenção a esse problema gravíssimo que assola o Brasil. São necessárias políticas públicas voltadas à empregabilidade e, principalmente, à capacitação profissional. Muitas vezes, há vaga, mas o trabalhador não tem qualificação para preenchê-la”, afirma Patah.
Nesse sentido, a UGT já realizou quatro mutirões de emprego em São Paulo, em parceria com sindicatos, governo, empresas e Sistema S, em que disponibilizou 22 mil vagas de emprego, além de capacitação digital e cursos de qualificação. Ao todo, foram preenchidas cerca de 10 mil vagas.
Ao longo de 2020, a UGT seguirá realizando mutirões, que serão levados também a outras regiões do País. “É preciso haver parcerias entre governos, sindicatos e empresas para oferecer ao trabalhador aquilo de que ele mais precisa: trabalho”, finaliza Patah.
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